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quarta-feira, 3 de março de 2021

Sem saber

Não entendo a existência.

Não a busco.

Nem um dia sequer. 

São tempos e muitos,

Sem sequer desejá-la

Como se empreendimento fosse.


Nao entendo a existência,

Nem sua formalidade,

Entre pessoas e pensares,

Pesares e pesados demais,

Coisa que desisti de explicar.


Atravessei a rua de junho,

De um ano ímpar,

De dias ímpares e sem sentido.


As ruas que cruzei,

Tantas e tão cheias de vazios

Que nem buscava alguém:

Só pensar.


A cruz aberta, em porta aberta,

Em céu aberto e coberto 

Por uma pintura,

De frades ocos de si,

De hoje, pastores ocos de mim.


Que nada.

Eram ruas.

Eram apenas esquinas

E coincidentes,

Remetiam às costas

De um passado,

Parede pintada a mão,

De anjos e arrojos,

De púlpito escuro,

Degrau sem céu.


Era uma vez, duas ou três.

Vinte e seis,

Era junho,

Oitenta e cinco e nada mais.

Mais um entre tantos.


Entretanto,

Não entendo a existência

Nem a estendo como roupa

Exposta em varal,

Porque nudez já basta esta,

Cuja alma perdida se perde

E ainda mais agora,

Mais e mais.


Ah, se entendesse a vida.

Ah, se entendesee existir.

Ah, se me entendesse.


Talvez hoje sorrisse,

Riria de mim,

Que achava ter visto,

De forma profunda,

Entre marcas em mãos

Os braços abertos.


Quem dera vivesse.

Quem dera entendesse.

Quem dera.


Eis a carta,

Letras em brados silentes

Insolentes versos de solidão,

Da voz, só voz que queria,

E até tentou, e tanto tentar, 

Que incapaz se fez de audição.


É assim.

Vozes, sons, lágrima solta,

Mas sem causar inundação.


De que valeria?

Onde chegaria?

Àquela praça,

Àquela igreja,

Àquela rua,

Àquelas Artes?


Ah, solidão mortal,

Por que te fazes tão terrível?

Queria muito entender.

Mas é tarde.

Todos dormem.

Ninguém, nem vozes, nada mais.


Nada mais importa.

Nada mais significado tem.

Claro que leitores hão de,

Sem sensibilidade, julgar,

Como se fosse o traço,

Feito por menino sem saber.


Mas que importa,

Se não importa a ninguém.

A solidão importa,

E das estranhas extrai

O silêncio doloroso 

Da inexplicabilidade,

Da reversa.


Pois bem.

É hora de colocar um ponto,

Afinal.